ROUPAS NO VARAL
Valdir Rangel
(10/12/2022)
Eu me recordo bem, que fingia estar dormindo, mas, pouco adiantava, ela
vinha determinada a recolher o meu lençol, e puxava mesmo, eu me contorcia na
cama, feito um malabarista se equilibrando na corda bamba, do circo.
Ligeira ela retirava aquele lençol, e saia dali em busca de mais roupas
para lavar.
Que cena engraçada, eu ficava calado e incomodado com aquilo, eu tinha o
meu ninho remexido, e mamãe retirava aquele meu escudo de pano, que me protegia
do mundo lá fora, que já estava acordado.
Dali, mamãe, ia até a lavanderia de nossa casa, na área externa no
quintal, munida de pedaços de sabão água sanitária, anil, e uma pequena escova
de dentes de nylon, ela iniciava a sua batalha dos sábados, contra a sujeira
das roupas e dos lençóis.
A torneira era uma orquestra desafinada, fazia um tremendo
barulho, derramando a água.
E numa bacia grande de alumínio, ela depositava as roupas e os lençóis
já lavados, mamãe parecia estar no meio de uma festa, num salão de baile,
cantarolava as suas canções, ao som da caída da água e do esfrega, esfrega do
sabão de pedra nas roupas sujas.
Por fim tudo ficava limpinho, alvo como uma nuvem passageira no céu. E
da janela do meu quarto, eu via as roupas e o meu lençol dependurado no varal,
feito os livros de cordel que um dia eu iria escrever!
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