O BALANÇO DO CAJUEIRO
VALDIR RANGEL
Nos anos 60 e 70 do século XX, a maioria das casas possuíam
um enorme quintal, nesse período ainda não havia a especulação imobiliária dos
tempos atuais, o quintal era a área predileta para as brincadeiras da criançada.
A minha casa não tinha
esse quintal de grandes dimensões, mas, ao lado dela, existia a casa de seu
Eusébio, um senhor de meia idade muito educado.
A área do quintal da casa dele tinha aproximadamente uns 30 ou 40 metros, espaço suficiente para uma criança brincar, correr, sonhar e pensar até, que a liberdade existe.
A área do quintal da casa dele tinha aproximadamente uns 30 ou 40 metros, espaço suficiente para uma criança brincar, correr, sonhar e pensar até, que a liberdade existe.
Naquela época o meu sonho de consumo era possuir um balanço
de pau e corda, meu pai e minha mãe eram muito amigos daquele cidadão.
E essa amizade entre
eles, facilitou que eu conseguisse autorização para fazer o balanço dos meus
sonhos num frondoso pé de cajueiro, que havia naquele imenso quintal.
Subi na árvore, como um ágil tirador de cocos faz, levei
comigo uma peça de corda de agave, amarrei as pontas da corda nos galhos
daquela árvore, de frutos doces e de resina viscosa, que escorria do seu caule.
O fruto do cajueiro, o caju, não me interessava tanto, o que
me atraia de fato mesmo naquele quintal, era o balanço, e voltando a confecção
do referido, após amarrar as cordas nos galhos, coloquei um pedaço de tábua nas
extremidades das cordas, que desciam dos galhos do cajueiro, fazendo uma
espécie de banquinho, onde eu me sentava e me deliciava naquele vai e vem, contra
a brisa que sutilmente soprava no quintal. Parecia até, que eu flutuava como
uma pena ao vento.
O tempo ia passando, eu tinha lindas manhãs e belas tardes, brincando naquele balanço, às vezes eu nem percebia o tempo passar, e mamãe me chamava para almoçar, e ir para a escola.
Mas, como nada fica oculto, alguns colegas, acabaram por
descobrir aquele meu mundo encantado, aquele meu parque de diversões
particular, e dai então passaram a frequentá-lo também.
No inicio, tudo foi maravilhoso, o balanço ia e vinha como se
fosse um avião voando nas nuvens, a companhia dos meus colegas tornaram as
brincadeiras no balanço mais interessantes, havia uma disputa, para vê quem
voava mais alto e quem conseguia pular do balanço em pleno movimento.
Depois vieram as briguinhas, as discursões acirradas, minha
mãe me alertava, para que eu evitasse a presença da garotada, principalmente
aqueles mais brigões e confuseiros.
Não dei ouvidos aos vários apelos da minha mãe, e a algazarra
continuou, eis, que um belo dia, ela recebeu uma reclamação do seu Eusébio,
lançou mão de uma faca cortou as cordas do balanço, rachou a tabua que servia
de assento, e para completar, alguns dias depois, seu Eusébio cortou o pé de
cajueiro, cortando assim, a minha alegria de menino, porém esse acontecimento,
não conseguiu cortar as minhas lembranças, daquele balanço no pé de cajueiro.
Alguns anos depois, passando na rua da casa de seu Eusébio,
vejo que o antigo imóvel foi demolido, e no terreno, foi erguido um enorme
edifico, de concreto armado. Mas, no meu pensamento, ainda sinto o meu corpo
balançar, naquele vai e vem gostoso do balanço do cajueiro.
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