O RELÓGIO
O cidadão chegou lá em casa, por volta das l4:00 hs do domingo, dia em que as pessoas guardam para descansar um pouco do corre-corre rotineiro da semana, meu pai consertava relógios a nossa casa era muito pequena, modelo de chalé uma porta com uma portinhola na frente e uma janela com duas bandas, com um vidro pequeno de cada lado, em dado momento, escutamos uma voz chamando, ô de casa, ô de casa, e uma mão , tentando abrir a janela, deitados no chão da sala estávamos eu e minha mãe, naquele ano de 1966, a onda de violência era muito pequena ou quase nenhuma mesmo, minha mãe mandou que eu abrisse a janela e visse quem era o cristão que estava ali, num salto só, cheguei até a janela e abri-a, era um senhor de cabelos curtos ondulados, moreno com um aspecto meio estranho, ele falava muito apressado como se temesse que as suas palavras se acabassem e não conseguisse dizer o que queria, a nossa conversa foi mais ou menos assim, diga meu senhor, ele rapidamente respondeu perguntando, cadê o relojoeiro menino, está dormindo, eu lhe respondi, ele prontamente deu uma ordem, acorde ele que eu tenho um relógio para ele consertar, corri para a minha mãe e disse: mãe o homem quer consertar um relógio, e mãe falou baixinho, mais a essa hora do domingo, mesmo assim ela me disse, vá acordar o seu pai, pois estamos mesmo precisando de dinheiro, corri para o quarto e puxei o lençol que cobria o meu pai, pai acorde, tem um homem ai fora querendo consertar um relógio, enquanto o meu pai chegava minha mãe ficou conversando com o homem na sala, meio sonolento, pai acordou-se, e foi até a sala, cumprimentou o homem, examinou o relógio por alguns minutos e disse o eixo está quebrado, deixe o relógio e venha buscá-lo amanhã à tarde, depois disso, meu pai indagou ao homem, qual o seu nome e ele disse: Zé João, o meu pai também perguntou o senhor mora aqui por perto, e ele disse moro, meu pai insistiu aonde, o homem disse aqui perto moço é naquela rua subindo descendo lá na frente, ao ouvir esse endereço muito estranho e anormal, meu pai não quis mais continuar com a conversa, e despachou aquele homem, no outro dia, na hora combinada o cidadão veio pegar o relógio pagou e foi embora.
Um mês depois, fomos ao manicômio judicial, à conhecida colônia, onde
são internadas as pessoas deficientes do juízo, a finalidade da visita que
minha tia, minha mãe, eu e alguns primos fazíamos era levar alguns doces e
roupas para um primo nosso que infelizmente estava ali internado, em dado
momento, ao passarmos em um grande corredor avistamos um pátio e lá adivinha
quem estava? Exatamente ele, o tal senhor do relógio, seu Zé João, minha mãe
mesmo diante daquela surpresa, prontamente falou com ele, como vai seu Zé, e ele
calado estava caldo ficou, um outro paciente que estava do seu lado disse: Zé, a moça
falou com você e ele respondeu, eu não conheço ela!
Algum tempo depois verificando a rua do manicômio, me convenci que o
endereço dado pelo seu Zé João estava correto, realmente a rua subia e descia,
pois a colônia ficava na rua da ladeira.
Valdir(PoesianoPrato)
31-01-2001
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