ESSE PALHAÇO – MENINO SOU EU!




Valdir Rangel



Não vejo mais o palhaço de rua que andava rodeado dos meninos, correndo, gritando, cantando, subindo e descendo as ladeiras, rua a cima e rua a baixo. O último palhaço de rua que eu vi foi na minha infância. Estava andando equilibrado, numa perna de pau, a cara toda pintada, vestindo a tradicional roupa folgada, com suspensório, usando uma peruca. Isso foi no final dos anos sessenta, ali no bairro da Torre. Por lá chegou um circo daqueles que o povo chamava, de “tomara que não chova”. Apelido esse porque a lona que o cobria era mais fina e transparente do que um véu de noiva.

O palhaço nas ruas, arrodeado de meninos, cantando algumas músicas, e a molecada fazendo o coro, ” O palhaço o que é? ” Os meninos respondiam: “É ladrão de mulher”, “Pompeu, Pompeu, tua mãe morreu”, ” Benedito bacurau, tá no oco do pau “, “O raio do sol suspende a lua, olha o palhaço no meio da rua”, “Hoje tem espetáculo?  tem sim senhor “. E assim seguia aquela comitiva, num verdadeiro trem da alegria, guiado nos trilhos das antigas ruas do meu bairro.

O circo estava armado na rua Adolfo Cirne, hoje a belíssima, Av. Ministro José Américo de Almeida, mas conhecida como Av. Beira Rio.


O palhaço era o marqueteiro do circo.  Ele saia às ruas fazendo a divulgação do espetáculo do dia. A garotada adorava sair atrás do engraçado palhaço. Era também pelo fato de garantirem a sua entrada grátis à noite, horário do espetáculo.

Após a divulgação nas ruas do bairro aqueles meninos que o acompanhassem até o final receberiam uma espécie de carimbo no braço, com uma tinta, todo dia era de cor diferente, para evitar uma possível fraude. E, devido a isso, ficavam sujos, sem poder tomar banho, sob pena de se apagasse aquela tinta, perderiam o ingresso de acesso ao circo.
Muitas vezes eu fui um desses meninos, corri quilômetros percorrendo as ruas do bairro, atrás de um palhaço, para garantir a minha entrada. Onde estão os palhaços? Os verdadeiros palhaços com suas piadas prontas, novas ou repetidas, mas todas engraçadas. Feitas com humor e simplicidade, temperadas com muita alegria.
Hoje não encontramos mais os palhaços verdadeiros nem os pequenos circos.  Hoje encontramos um grande circo de saudade. Esse que existe apena na memória daqueles meninos, inclusive na minha, pois, afinal, sou também um deles!

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